Na primeira Roda de Tereré convidamos as seis presidentes de gestões anteriores da ABEn seção MS, para uma entrevista, sobre a sua motivação e participação na entidade de classe.
A nossa primeira convidada é a enfermeira,professora Elizabeth Gonçalves Ferreira Zaleski, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem ABEn seção MS gestão 2000-2001.
Professora Elizabeth é enfermeira, graduou-se em 1974, pela Pontifícia Universidade Católica de Curitiba/ PR, concluiu Licenciatura em Enfermagem, Especialista em Administração Hospitalar, Saúde Pública, Metodologia de Ensino Superior e de Assistência de Enfermagem. Mestre em Enfermagem Psiquiátrica e Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Tem uma ampla trajetória profissional na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como Coordenadora de Curso de Auxiliar de Enfermagem, Enfermeira chefe do Hospital Universitário e docente do Curso de Medicina. Integrou o Grupo responsável pela Criação do Curso de Enfermagem da UFMS, foi coordenadora de Curso e Professora do mesmo Curso. Atuou como docente do Curso de Enfermagem da Universidade Católica Dom Bosco em Campo Grande/ MS, na área de Enfermagem em Saúde Mental, Saúde do Idoso e Estágio Supervisionado
Enfermeira Elizabeth dedicou-se pela formação e união das enfermeiras em entidades de classe. Com a divisão do Estado se tornou mensageira do Coren MT até ser criado de fato o Coren MS em outubro de 1988. E assim nas décadas de 1980 e 1990, buscava junto a ABEn atualização da Enfermagem participando dos Congressos de Enfermagem. Sendo a sua primeira Presidente da ABEn MS (2000-2001) Sua atuação na enfermagem sul mato-grossense é conhecida pelo pioneirismo e sobretudo pela necessidade de educação dos profissionais de enfermagem, inclusão, redução da discriminação e reconhecimento dos direitos dos portadores de HIV.
Elizabeth, obrigada por ter aceito o nosso convite. Quando falamos sobre a criação da ABEn em Mato Grosso do Sul,quais são as suas lembranças?
Agradeço muito pelo convite para falar sobre a ABEn, pois é prazeroso e é algo que me preocupa. Quando eu ouço os profissionais falarem: O que a ABEn vai fazer por mim? Eles não entendem, que somos nós que temos que fazer pela ABEn. É uma associação, e a profissão só cresce se tem uma associação forte. Parece que as pessoas tem dificuldade de entender isso. Eu tenho acompanhado as associações de outras profissões e com engajamento bastante consistente. E na enfermagem nós temos esta dificuldade, que a falta de reconhecimento da profissão também é em decorrência por não se acreditar tanto na associação. É prazeroso, pois precisamos levantar esta pauta, para que as pessoas passem a entender as finalidades de uma associação. E a participação me comove, pois é voluntária. A ABEn promove o desenvolvimento da profissão e depende de cada um de nós.
Quem foram as pessoas que te inspiraram a desenvolver um trabalho junto a ABEn?
A ABEn esteve presente durante toda a minha vida. E já no período pré acadêmico, conheci enfermeiras, lembro da Josefa, que fazia parte da ABEn Paraná e ela falava de enfermagem de uma forma tão entusiasmada e influenciou minha opção profissional. Tenho lembrança do meu primeiro contato com a ABEn, durante a graduação, em 1974, por ocasião do XXVI Congresso Brasileiro de Enfermagem, em Curitiba, no qual eu fui monitora. Eu vi das colegas, as presidentes, todos faziam de uma forma no sentido de desenvolver a profissão, o Ser Enfermeiro e fiquei maravilhada com isso.
Fale sobre o seu contato com a ABEn na vida profissional.
Eu sempre fui associada da ABEn. Quando vim para Campo Grande, em 1977, me associei a ABEn MT, para participar das Semanas de Enfermagem. Recordo bem da Primeira Semana de Enfermagem de Mato Grosso do Sul, em 1985, fui chamada pela Enfermeira Ednalva Xavier Luz, que foi a Coordenadora, para ajudar. A ABEn procura desenvolver a enfermagem, trabalha com pesquisa, educação, saúde básica, diagnóstico de enfermagem, saúde do trabalhador de enfermagem.
A ABEn tem a Semana de Enfermagem como um patrimônio cultural. Em 1981, fui para Manaus e participei do Congresso Brasileiro de Enfermagem e conheci outras enfermeiras. Achei tudo fantástico, a abertura no Teatro Amazonas com presença de autoridades, foi um evento maravilhoso. E na medida do possível, procurei participar dos Congressos. E aqui em Mato Grosso do Sul, não tinha este conhecimento. Falava da ABEn, e ouvia dos colegas: Para que serve a ABEn? Já tem Conselho. Existe uma confusão, pois são duas entidades com funções diferentes.
Como foi o processo de criação da ABEn seção MS. Quais foram os desafios?
Em 1999, tivemos a oportunidade de participar do Projeto Classificação das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC). Foi gratificante e um privilégio, Mato Grosso do Sul ser cenário da pesquisa. Foi muito bom o engajamento da Secretaria de Estado da Saúde de Mato Grosso do Sul, da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, dos hospitais e dos acadêmicos. E isso motivou o grupo para a criação da ABEnMS. Precisávamos de assinatura de cem enfermeiros e a aprovação ocorreu na Assembleia Geral dos Delegados (AND) durante o Congresso Brasileiro de Enfermagem em Florianópolis. E assim começamos, com a sementinha da ABEn MS. E para fazer o registro em cartório, constituímos a Diretoria e recebemos doações das enfermeiras. Lembro-me bem, que um motoboy, nos ajudou, indo as residências das enfermeiras recolher o dinheiro. Fiz a doação de exemplares de meu livro para vender e angariar recursos financeiros e para fazer o CNPJ tivemos a ajuda de um advogado, esposo de uma enfermeira associada. Foi emocionante, ver o Mato Grosso do Sul com uma seção da ABEn.
Em 2000, estávamos em processo de implementação do SUS e a ABEn foi muito atuante. A presidente da ABEn Nacional era a Enfermeira Eucléia Gomes Valle. E foi criado o Projeto Acolher, com foco nos adolescentes brasileiros, que estavam excluídos dos demais Programas, como dos adultos e Idosos e das crianças. Um dos problemas abordados era e ainda é a gravidez na adolescência. Foi a ABEn que implantou o Programa Acolher em todos os estados do Brasil. Nós realizamos um Fórum no Anfiteatro do Laboratório de Análises Clínicas (LAC) da UFMS, com o apoio da Escola dos Conselhos e da Fapec. Neste evento convidamos as entidades que já trabalhavam com adolescentes em Mato Grosso do Sul. E lembro da instituição que acolhe e ensina os adolescentes, a Ampare. Foi neste evento que fui indicada como Presidente da ABEN MS de fato.
Hoje estamos fazendo uma retrospectiva, quais foram as lições aprendidas?
Foi muito bom, revendo a história da ABEN, ela desencadeou e se empenhou em muitas ações do Ministério da Saúde para o desenvolvimento da Enfermagem brasileira, por exemplo o Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (Profae). Além disso, a ABEn realiza os Seminários Nacionais de Diagnóstico de Enfermagem (SINADEN), apoia e desenvolve pesquisas, representação na CAPES. Em 2011, tivemos o Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem na UCDB em Campo Grande/ MS.
Este ano, em 2021 ,já se passaram vinte anos desde a criação da ABEn seção MS. O que você considera ser prioritário para a ABEn,seção MS como entidade de classe.
Precisamos cuidar da nossa ABEn e acredito que estas entrevistas com as Presidentes darão maior visibilidade e vai mostrar o engajamento das enfermeiras. E ABEn existe e cresce com a participação e a contribuição dos associados. O Coren tem função fiscalizatória e o papel da ABEn é o desenvolvimento da profissão.
Professora Elizabeth,estamos muito agradecidas por seu depoimento e sua dedicação a enfermagem sul-matogrossense.
Entrevista obtida em 01/02/2021, forma virtual.
Enfermeira Margarete Knoch, Secretaria Geral da ABEn seção MS, gestão 2020-2022.